17.6.09

GRANDES CENAS (5)



A mais bela entrada em cena de James Bond (Sean Connery, em Goldfinger, 1964).

8.6.09

GRANDES CENAS (4)



Espiando o amor (deslumbrante Jennifer Connelly, em Era Uma Vez na América, 1984).

6.6.09

MAR ADENTRO*


POR NÓS ADENTRO

Um belíssimo filme. E um filme que, sobretudo, e para mérito inteiro do seu realizador (Alejandro Amenábar), sobreviveu àquilo a que muitos esperavam que claudicasse: a demagogia (e até fanatismo, de um lado e de outro) com que crescentemente se aborda o tema da eutanásia. Este aspecto é, a meu ver, plenamente confirmado pela análise à personagem de Ramón Sampedro: de facto, em momento algum nos é apresentada como vítima do destino (embora objectivamente o seja); pelo contrário, Ramón surge-nos, ab initio, com uma força interior esplêndida, plena de simpatia e enorme sentido de humor. Se não repare-se: não se zangou com o mar, que o "atirou" para aquela cama; também não se zangou com a vida, o que ele acha (e que é algo bem distinto) é que já não tem vida, já não vive humanamente; e, mais ainda, nunca perdeu a vontade de sonhar, o sonho, esse traço único do Homem (lembre-se aquele espantoso "voo", desde a janela do seu quarto até à lindíssima praia galega). Enfim, conhecemos afinal um Ramón Sampedro que de forma alguma parece estar ressabiado com a vida e o destino. Tudo isto não impede, todavia, (e nem tinha que impedir...), que ele esteja determinado na sua decisão de pôr termo à vida, ou, como agora se diz, de morrer com dignidade. Ainda assim, note-se a grandeza de Ramón: apesar de uma morte digna ser a grande causa da sua vida, em momento algum há assomos de egoísmo ou mesmo de egocentrismo - tudo estava pensado na cabeça de Ramón para não prejudicar (leia-se incriminar) quem o ajudasse a morrer. Para este homem, os fins não justificavam os meios.

Sublinhe-se ainda o amor em Ramón: "A pessoa que me amar será aquela que me ajudar". Para ele, o amor surge como expressão máxima do respeito absoluto pelo outro.

Outro aspecto digno de realce no filme foi o não esquecimento da Igreja como parte importante no debate sobre a eutanásia (ou, mais latamente, sobre a defesa da vida). Contendo uma crítica explícita à doutrina católica actual, o diálogo entre Ramón e o padre da igreja espanhola (também ele tetraplégico) é um dos momentos altos do filme.

Para além de todas estas considerações, há uma que ainda falta fazer. E que é a mais sui generis: é que o filme, para mim, encerra uma espantosa ironia: tendo como (pretenso) objectivo levar-nos a defender a eutanásia (pelo menos no caso concreto de Ramón), o que é facto é que acabamos por não querer que ele morra..., não no sentido de não querermos respeitar a sua vontade, mas porque rapidamente criamos afecto com Ramón, e quem é que gosta de ver partir alguém que estima?

De resto, três notas finais: primo, a magnífica interpretação de Javier Bardem (decerto o melhor actor espanhol da actualidade); secundo, a excepcional captação, pela câmara de Amenábar, da infinita beleza da Galiza (maxime da sua deslumbrante costa); e tertio, o Oscar é mais do que merecido, e vem acentuar o (justo) domínio do cinema espanhol nos últimos anos na categoria de melhor filme estrangeiro.

*Texto escrito em 2005.

4.6.09

QUE MULHER PARA EÇA?


«Eu precisava de uma mulher serena, inteligente, com uma certa fortuna (não muita), de carácter firme, disfarçado sob um carácter meigo (...) que me adoptasse como se adopta uma criança, me obrigasse a levantar a certas horas, me forçasse a ir para a cama a horas cristãs - e não quando os outros almoçam - que me alimentasse com simplicidade e higiene, que me impusesse um trabalho diurno e salutar e que, quando eu começasse a chorar pela Lua, ma prometesse - até eu a esquecer (...)».